terça-feira, 28 de julho de 2009

Brincadeira de criança

Quando eu era criança não costumava acreditar nas pessoas, queria ter musculos verbais bem potentes pra acabar com essa gente que esmaga mesmo sem ter trator. Desejava gritar tão alto a ponto de resolver todos os problemas do mundo. Fome, miséria, devastação..isso não era coisa de criança.Queria mesmo acabar com as diferenças e transformar a minha vida numa eterna casinha de bonecas. Queria tanto, sonhava tanto. Foi quando eu descobri que pra sonhar não era preciso dormir. Hoje fico um tanto quanto adimirada com a capacidade das crianças de sonhar. Depois de crescida são raros os sonhos que são lembrados ao abrir dos olhos, são raros os desejos que de tão desejados se realizam. Agora vejo que ser criança é pura adrenalina, queria eu ter e destreza de subir em árvores como outrora fazia, queria eu juntar os amigos e contar histórias de terror durante a noite só pra ver seus rostos embevecidos de medo. Quando se cresce, os medos ficam mais reais, as manhas mais intensas e os problemas mais insolúveis. Penso ser uma eterna criança. Não que eu tenha sete anos, mas procuro manter a inocencia dentro de mim. Quero manter a criatividade aprisionada em mim por mais que as rugas castiguem meu rosto. Crianças não foram feitas pra morrer, e nelas a fonte de vida não se esgota.

sábado, 11 de julho de 2009

Sensorial

É que as palavras não dizem.
Ainda que vastas, não bastam.
Mesmo assim teimo
e vou dizendo em silêncio,
assim, em sussurro no ouvido
como verdades grandes.
Dizendo pelos poros, pelos pêlos.
Pelos cílios que se encontram
por acaso na luz branda da escuridão.
Pelos olhos que brilham
no deslumbre do encontro
que é sempre o primeiro.
Os silêncios gritam,
daí que os olhos se lêem depois.
Os olhos conversam, se entendem.
Os olhos se sabem de um jeito,
ainda que não se enxerguem direito,
ainda que na escuridão da meia luz.
Então, os lábios conversam,
trocam as mais indizíveis palavras.
Então, as almas se lêem à revelia do poeta
os corpos e as almas entrelaçados no gesto único.
As almas brilham à luz da madrugada.
E os sentidos concentrados
apenas no desejo do outro corpo,
na vontade do prazer único
que é o prazer do outro.
As palavras afinal são poucas,
mas se desdobram em dizeres múltiplos
pelos diferentes sentidos ali demonstrados.