sábado, 15 de agosto de 2009

Dizer ou nao dizer, eis a questao

Eu podia falar eu te amo, acabar com a angustia e revelar logo o encanto. Mas nao, eu nao. Eu tenho um orgulho bem maior que todo o amor do mundo. Nao quero ser uma particula da massa amante declarada da sociedade. Nao quero me ver perdida em declaracoes cliches, rimando amor com dor sem peso na conciencia. Algo me diz que declarar tal afirmacao sera um ingresso para a breguisse, por mais que eu ja ande na corda bamba do ridiculo. Eu sinto, mas ta tudo aprisionado em alguma profundeza da minha personagem, que se finge de desentendida quando o assunto e revelar o que se passa alma adentro. Ate porque nao serei eu a primeira a admitir que amo alguem e ficar desnorteada esperando qualquer sinal de correspondencia. Eu sou muito orgulhosa pra esse tipo de coisa que os amantes se orgulham em declarar. Mas a verdade e que so se percebe a seriedade da coisa quando as palavras fogem sorrateiramente por entre os labios. E sim, e o ingresso pra breguice. Mas so a partir dai que voce percebe a sutileza da coisa e o quanto esta implicito em somente tres palavras. As palavrinhas magicas que abrem portas e pernas pelo mundo todo mas somente elas expressam a imensidao do que e, de fato, amar uma pessoa. Saber que ele pode engordar, enlouquecer, emburrecer, pode me desprezar, cuspir no chao e ate me chamar de gorda que nao me importaria. Ele pode a puta que o pariu que eu continuaria sentindo a mesma coisa por ele. Pois percebi que ele era meu. MEU. magro ou nao, louco ou nao, burro ou nao. Entao eu falei, com todas as letras e sem remorso. Encarei o medo de frente e revelei tudo que calava. E sao esses dias em que a distancia reina onipotente que qualquer duvida da origem do sentimento some e eu percebo que a vida se mostra em tons de cinza em degrade sem ele. A presenca da ausencia. A ausencia da presenca. Nao posso nem ficar discorrendo sobre os efeitos da falta que ele me faz porque so de pensar nao me faz bem. Alias, adoraria ser um animal sem cerebro. Pensar sempre foi o meu forte e a minha ruina. A verdade e que eu me levo a serio demais e me vejo na brincadeira de neurose da minha cabeca. Entao prefiro fingir que a dor nao e minha e sigo me engando. So espero a hora de te olhar nos olhos de novo e gritar 'EU TE AMO' ate esvaziar o que chamo de pulmao.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Brincadeira de criança

Quando eu era criança não costumava acreditar nas pessoas, queria ter musculos verbais bem potentes pra acabar com essa gente que esmaga mesmo sem ter trator. Desejava gritar tão alto a ponto de resolver todos os problemas do mundo. Fome, miséria, devastação..isso não era coisa de criança.Queria mesmo acabar com as diferenças e transformar a minha vida numa eterna casinha de bonecas. Queria tanto, sonhava tanto. Foi quando eu descobri que pra sonhar não era preciso dormir. Hoje fico um tanto quanto adimirada com a capacidade das crianças de sonhar. Depois de crescida são raros os sonhos que são lembrados ao abrir dos olhos, são raros os desejos que de tão desejados se realizam. Agora vejo que ser criança é pura adrenalina, queria eu ter e destreza de subir em árvores como outrora fazia, queria eu juntar os amigos e contar histórias de terror durante a noite só pra ver seus rostos embevecidos de medo. Quando se cresce, os medos ficam mais reais, as manhas mais intensas e os problemas mais insolúveis. Penso ser uma eterna criança. Não que eu tenha sete anos, mas procuro manter a inocencia dentro de mim. Quero manter a criatividade aprisionada em mim por mais que as rugas castiguem meu rosto. Crianças não foram feitas pra morrer, e nelas a fonte de vida não se esgota.

sábado, 11 de julho de 2009

Sensorial

É que as palavras não dizem.
Ainda que vastas, não bastam.
Mesmo assim teimo
e vou dizendo em silêncio,
assim, em sussurro no ouvido
como verdades grandes.
Dizendo pelos poros, pelos pêlos.
Pelos cílios que se encontram
por acaso na luz branda da escuridão.
Pelos olhos que brilham
no deslumbre do encontro
que é sempre o primeiro.
Os silêncios gritam,
daí que os olhos se lêem depois.
Os olhos conversam, se entendem.
Os olhos se sabem de um jeito,
ainda que não se enxerguem direito,
ainda que na escuridão da meia luz.
Então, os lábios conversam,
trocam as mais indizíveis palavras.
Então, as almas se lêem à revelia do poeta
os corpos e as almas entrelaçados no gesto único.
As almas brilham à luz da madrugada.
E os sentidos concentrados
apenas no desejo do outro corpo,
na vontade do prazer único
que é o prazer do outro.
As palavras afinal são poucas,
mas se desdobram em dizeres múltiplos
pelos diferentes sentidos ali demonstrados.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Anne sempre foi uma menina desencanada, dessas que mostra orgulhosa a sua estante de homens-objeto. Ela sim sabia como lidar com eles e calculava friamente os movimentos pra nao se envolver a ponto de se arrepender. Mediocre que brincava com o coracao dos outros, mas se achava no direito de faze-lo dado que por tanto tempo era isso que recebia em troca ao inves de amor. De fato, ninguem havia lhe entregado o coracao por inteiro ou se dado foi algo tao pequeno e despercebido que ela nao notou a seriedade da coisa. Entao brincava com as circunstancias, fazia deboche dos cliches da vida moderna. O que nao passava de uma forma de provar a si mesma que nao precisava daquela palhacada de 'eu te amo'. E nao precisava mesmo. Tudo que ela precisava era alguem pra dar um beijo caloroso de bom dia e boa educacao. Mas nao, o destino colocara no seu caminho esse tal de amor. E ela o amou. Por muitos anos pertenciam a ele seus olhos de esmeralda recem polida. Existia o amor, mas lhe faltava a compreesao e uma serie de sentimentos que tornam possivel o convivio. Entao era isso, nao era amor. Era uma paixao fulminante que aquecia os coracoes mas nao transparecia a sutileza nas atitudes. Enquanto eles praticavam suas condicoes de animais perante o mundo zelavam contratos calados. Um lia os olhos do outro na busca de correspondencia, o problema e a falta de habilidade humana para ler o subentendido. Era evidente. Improvavel mas evidente que as letras estavam embaralhadas. Nao era amor que estava escrito em tinta manchada, nao era nada. Era apenas um pedido de socorro da mediocridade, na busca de uma valvula de escape. E ele a salvara por alguns anos, ate que os coracoes se esfriaram de concessoes que machucavam o egoismo nosso de cada dia. E o contrato fechado no olhar foi desfeito na mesma medida pois todo caso termina na intensidade em que comecou. E esse fora seu medo desde o inicio. Mas depois de alguns tapas na cara, anne aprendeu a ser fria e calculista como todos os homens que conhecera. Foi quando se despiu dos sentimentos de vez. Se tornara uma maquina perfeita que nao sofre as espectativas de correspondencia, nem sequer sentia mais nada.Nada poderia abala-la. Nem mesmo o romantismo bobo que enxergava nas vontades sordidas. Nao acreditava mais no amor. Nem mesmo na massa amante da face da terra.Eram todos contratos calados assinados com mentiras.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Guerra silenciosa

Sempre tive um talento especial pra errar. Seja por esse meu mecanismo auto-sabotador que me persegue ou tomando decisoes erradas de olhos abertos. Mas nunca saio de uma viagem ilesa dos arranhoes. E, desde entao, construi um muro de pedra em volta de mim e me tornei prisioneira da minha propria mediocridade. E como arma de destruicao em massa eu usava a indiferenca. Como escudo eu mantinha distancia da intimidade. E aos poucos fui adaptando o meu forte a guerra. Foi quando eu percebi que do outro lado do muro nem todos os invasores queriam me derrotar. Mas a descoberta nao foi assim tao simples. Foram anos de guerra silenciosa que me levaram a esse estagio de calmaria mental. E naquela sexta-feira sem graca voce apareceu na minha porta, tocando a campahia com educacao, me desarmando devagar. Acostumada a toda violencia e torpor, me vi atonita diante da honestidade. E voce foi descongelando os muros que reinavam em mim, e conforme os tijolos caiam a dependencia foi reinando onipotente. E dela que eu sempre tive medo. A dependencia do que nem e seu de direito mata. Ou voce acha que Julieta morreu de que?!Ela era dependende do amor de Romeu, e so de pensar que nao mais o veria tratou de dar cabo de sua vida. Longe de mim me comparar a Julieta, mas penso sofrer o mesmo mal. Nao necessariamente amor desenfreado, mas da necessidade de afeto, a necessidade do outro. E eu me vejo assim. Completamente perdida nesses dias que nao te vejo, nem outro assunto ousa rondar minha mente. E nesse dia voce construiu um muro maior ao redor do meu, me protegendo de toda dinamite.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Psicanálise

- Eu bem que tentei. Tomei veneno, caminhei bêbada sobre a beirada do terraço de um prédio de trinta andares, deitei-me sobre pregos, comi pão mofado, engasguei com jujubas açucaradas. Tentei ser o pior que pude, mas minha vida sempre foi razoavelmente boa. Nunca vivi um amor proibido e avassalador, nunca passei uma noite na cadeia e mesmo fumando dez cigarros por dia há quinze anos, não estou nem perto de conseguir um tumor. Foram tantas tentativas de vicios, mas jogatina e drogas pesadas nunca foram o meu forte. Depois de alguns meses o máximo que consegui foi uma ida ao hospital por intoxicacao depois de fumar maconha estragada. E não pensem que apareci no hospital caminhando tranqüila pela porta da frente não. Estava curtindo a minha inanição na paz do meu cômodo mal cheiroso quando dois enfermeiros mal encarados vieram me salvar da minha mediocridade a caminho do hospital. Familiares dispostos a me manter sã bancavam aquela palhaçada. Sempre dei o azar de não dar azar, e meus anos sempre correram conspirando com minha sorte, mesmo nos momentos em que eu insistia em fazer tudo errado as coisas sempre acabaram bem para mim. Aliás, já começaram bem: nasci em família abonada, fui criança de passaporte e cursos de natação, inglês, ballet e teatro... enfim, qualquer um daria tudo para viver como eu sempre vivi. Enquanto eu daria tudo para ser como qualquer um. Tentei ser pobre, mas até sendo pobre eu ganhava dinheiro nas esmolas e crescia na vida; tentei ser bandida, mas a polícia nunca me pegava, eu sempre consegui escapar da lei; tentei ser boêmia e passar o resto dos meus anos me auto-destruindo e fazendo arte, mas minha arte era demasiado boa e então os museus me adotaram como a “nova arte em persona”, o que não me permitiu o sonho de morrer cedo e no anonimato. Mudei de cidade e emprego tantas vezes que perdi a conta. Passei por cada sufoco, mas no final, me dei bem em todos. Por último, fingi sofrer uma forte depressão, e passei dois meses sem tomar banho ou sol, comer direito e falar com alguém. Mas cansei de bajulações e de um dia pro outro me curei.
-Lamento senhorita Stenhagem, mas devo informá-la que seu problema trata-se de felicidade crônica.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Meia poesia

Nao me venha com meias conversas
Hoje eu quero o torpor dos anjos
o mal-dizer dos amantes
Nada de rompantes lado a lado.
Eu quero o cliche do amor
nunca acabado.

Nao me venha com meias verdades
eu quero sentir o pra sempre
e todo seu prazo de validade
Porque sou um ser sofrivel
solteirona de meia idade
E nem por isso, um ser amavel

Nao me venha com meios gestos
torpor morimbundo de vagalume
quero sorrisos leves e singelos
mesmo que tenha sido deposto
o imperio do bom costume.
E aqui so resta o rei morto.

Nao me venha com meias caricias
eu venho caminhando descalca
cansada dessa imundice do nao-amor
e se nao sabes me servir de coberta
nada de desculpas e por favor.
Por favor digo eu, indignada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vidros quebrados


E ele falava comigo enquanto eu olhava o mundo la fora pela janela. Eram cores, nuances, esteticas bem mais interessantes que suas justificativas salgadas. E de nada adiantaria encara-lo de frente como tantas vezes fiz, ate tirei meus oculos para nao ve-lo me vendo reagir. Deveria ter recolocado pra poder ve-lo me vendo responder vorazmente com toda essa sinceridade que me assombra. E de nada adiantaria, seriam apenas algumas verdades no ventilador e alguns dias de mal estar ate que tudo voltasse ao eixo. Mas dessa vez era muita poeira, tanto na janela quanto nos sentimentos ali demonstrados. Tinhamos nos rendido a comodidade e ele perdera aquele olhar, quase canino, de sincero. Eu jurava que nao seria uma noite no motel com outra mulher que mudaria esse jeito de me carinhar, agora quase felino como quem arranhou os moveis e so espera ser descoberto. Mas eu sabia, eu sabia que algo tinha mudado. Foi quando, pra chamar a minha atencao, ele resolveu me confessar toda sua podridao e destruir de vez a minha confianca ou qualquer consideracao que eu poderia ter por aquele homem. Agora ele me parecia tao sujo e tao trasnparentemente irritante quanto a janela. Entao eu tive que quebrar a janela, melhor quebrar a janela a quebra-lo ou quebra-la ou quebrar-me. So assim pra ter uma visao clara sobre o que ali acontecera, meio a desculpas e culpas, eu me encontrei pela primeira vez com o homem que eu jurava amar. Alto, frio, quase um carrasco que ate entao se continha diante da mocina. E eu na posicao indefesa da vitima, que de tonta fazia planos e adocava sua boca mentirosa. Mas dessa vez eu dei de cara com o horror. E o horror nao tem detalhe. Nao tem minucia. Nao e cheio de explicacoes. O horror nao tem explicacao. Nao adianta voce vir me perguntar como foi e querer que eu fique horas aqui contando. E sempre rapido. O panico e sempre muito rapido. Eu lembro bem do meu desespero na hora, lembro nitido como essas coisas que a gente dava tudo pra esquecer mas sabe que vai ficar pra sempre aqui martelando. Nao sei quem falou primeiro, quem atirou primeiro. So sei que tava tudo la. O circo armado e eu no meio sem ter pra onde correr. Ate maldade falar assim, circo é uma coisa tao bonita, nao e nada parecido com aquilo. Muito grito, muito desespero, eu nao sei se na hora cheguei a sentir odio. Acho que o que eu sentia tinha mais a ver com indiferenca, como que se ele nunca tivesse sido meu, o que so podia ser verdade. Minha mãe dizia, muito certa como so ela, que o oposto do amor nao e o odio e sim a indiferenca. Ela, de fato, sentiria orgulho de mim naquele dia. Eu via toda aquela cena como narrador-observador, aquela nao podia ser eu. Eu so sentia pena, e dessa vez era de mim mesma.E ele foi sugando a vida pra fora de mim. No fim eram apenas lacos desatados e vidros quebrados.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Eu, vc e a ausencia

E e assim, nessa pagina em branco que eu me despeco das minhas ideias..

branco, e sem cor.
Amargo e com rancor.
Rotina sem flor,
Bonito, mas matador.
Putrefeito e sem amor.

Como eu virei essa criaturazinha brega e sem sentido? Virei especialista em criar rimas prontas de livros vagabundos. Eu devo estar perdendo a minha identidade me identificando nos livros alheios. Me tornando uma pessoa externa de mim, que vive sem pensamentos proprios e respira o personagem. Eu sou na terceira pessoa, sinto na terceira pessoa, porque aqui nao sinto nada, nem a dormencia da ausencia, nem o sal, nem a pimenta. Eu devo mesmo estar entrando numa sala sem espelhos ja que nao enxergo o que se passa alma adentro. Vai ver nao se passa nada mesmo, acho que estou apenas respirando e com um coracao pulsando. Poetico demais pra ser tragico. Tragico demais pra ser poetico. Esta aberta a temporada de leitura.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ar rarefeito


Eu não sei o que acontece dentro da sua cabeça. Que diz que me ama sem olhar nos olhos, me coloca as qualidades que eu não tenho e faz cara feia. Me defende enquanto me falta razão e reclama desse meu coração de pedra. Pedra preciosa, isso sim. Que ainda rudimentar se vê clara sob a luz, raridade em meio ao lixo. E tamanho é o brilho aos olhos dos poucos que adentram sua camada porosa. Nariz arrebitado de teimosa, orgulho que fura a alma. Atrás desses olhos de ressaca posso provar que um musculo cardíaco pulsa ainda despreparado pra toda essa entrega desenfreada e toda essa imundice da vida cotidiana a dois. Devo ter sido mordida pelo mosquito da realidade, e vejo todas as intenções destorcidas por trás dos gestos. Talvez mordida pela desconfiança da vida moderna, mas eu sinto que há algo no vento que parece uma tragedia a caminho. Por mais que eu tente me esconder, eu sei que a nuvem negra ja se acomodou sobre a minha cabeça prometendo dias de tempestade. E eu ja sinto os pingos desse novo tormento que me tira as noites, me cala devagar. E, no fundo você não passa de uma dormência no pé, não me disperta grandes sensações de amor nem ódio, mas incomoda de certo modo. Antes ser dormencia passageira a tomar lugar do meu coração de vez, ou ruir sendo meu rim estragado. Por isso mantenho essa distância mínima, mas suficiente pra não tornar rarefeito o ar a minha volta e continuo respirando devagar.

domingo, 19 de abril de 2009

Novela da minha vida

Novela da minha vida
Que nem enredo tem
sem sal mas preferida
talvez por ninguem

Novela da minha vida
Ha uma ausencia morando em minha casa
que cobre de cinzas os espelhos
amarga o sumo das frutas
descontrolando o eixo da asa
Que nem serve pra voar mais.

Novela da minha vida
de ritimos e defeitos
talvez mais um anjo passageiro
ou uma quimera sem freios.

Novela da minha vida
Vejo essa abundancia de sorrisos
que me preenche, sem comida
ja que comer se tornou habito dos mortais
e sofro a indignacao do organismo fraco.

Novela da minha vida
Manchada de preto inseguranca
cujo elenco so faz fingir
mesmo depois que as cortinas fecham

E eu de protagonista,
presa no papel de mocinha
so me falta o principe, que disse adeus
so me falta paciencia com esse destino.
Queria eu ser vila e criar meu mundo
assumir as maldades e viver sem culpa.
Enquanto isso vivo a margem
marginalizada nos pensamentos do autor.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O berço dourado

Num berço espelhado
descançava o filho de alguém,
aquele que de tudo tem,
aquele que de tudo reclama,
aquele que baixinho clama,
por um berço dourado.

Nem diamantes e pérolas furta cor
colocadas em contrapor
emitiam a radioatividade do metal,
aguarde o temporal.

Admira a beleza de seu berço reluzente
mas não é benevolente
e continua exigente,
pois nenhum berço é tão cativante,
nem tão exuberante
quanto o de ouro.

Um choro pidão, assim descontraído
Ele, certamente considera sua vida ganha
no fundo, não passa de um filho da fama
Sua face exala a feição de seus genitores.


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Possivelmente escrito em 2001, observe as rimas bobas de uma criança de 11 anos.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sobre ela

Sempre tivera uma imaginacao fora do comum. E por isso resolveu escrever um livro. Um livro so dela, desses que poderia despejar todos os seus defeitos em cima de uma personagem qualquer. Depois era so dar um nome engracado e o romance estava encaminhado. Nao que sua vida fosse por demais interessante pra virar livro, mas Fernanda acreditava que so os famosos, as putas, os drogados ou os apaixonados em excesso conseguiriam "material de vida" suficiente pra 200 paginas de pura verdade inventada. Entao resolveu ser cinica, escrevendo descaradamente sobre ela mesma a ponto de qualquer pessoa que ja a viu na padaria de manha reconheceria a farsa. E na introducao ainda colocaria uma linha imoral sobre como aquele livro era de ficcao e que nenhum dado tinha conexao com a realidade. Resolveu tambem introduzir umas mentiras dando-a um ar de descolada e super moderna. Por varias vezes desejou escrever na primeira pessoa, mas seria por demais descarado, nao gostava desse nivel de exposicao. Joana, isso. Joana seria seu nome ficticio. Uma mulher sofrida, como se sentia por dentro. Uma mulher sexual e muito sexuavel, como sempre quisera ser. Uma mulher cheia de questionamentos internos e uma autocritica dominante. Assim era Joana, com muito de fernanda, ainda assim com muita autencidade. Joana tinha nos olhos a raiva descontrolada de mulher traida, um olhar sempre frio e distante de quem ja viveu bastante e sofreu mais ainda. Na verdade Fernanda queria mesmo expressar suas frustracoes de um amor que, pra ela, tinha acabado antes da hora. Despejava tudo que sentia num bloco de notas, assim, sem poesia. E nada pior que uma mulher frustrada, ela busca vinganca dos modos mais traicoeiros. So Deus sabe como as mulheres descontroladas e as bichas sabem ser vulgares ao se vingar. E assim fez. O livro era cheio de ironias e sua ideia inical de retratar sua realidade se esvaia ao ponto em que ela sentia o gosto de mentir sem ser descoberta. Foram horas do dia desperdicadas e so uma pagina ficou pronta. Que diabos de livro e esse de uma pagina so?!Realmente, nao tenho talento...digo, nao tinha talento.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Para quem quer que eu sou!

Em circulos, inevntaram-me o mundo
de nuances e sorrisos de falsidade
sem ardor ou qualquer vinculo
aquilo que chamo de identidade
e sem ser quem sou
sou alma desamparada
sou metafora do caos organizado
sou poesia cantada,
desafinada.
[In]mundo abortado
sou tormento sepultado,
feitico de navalha,
sou amante acovardado
lamento que o vento espalha.
E o nao-ser me espanta
que num grito em silencio
por demais [ir]responsavel
arranha-me devagar a garganta
essa ja cansada de lamurias
e promessas de palavras dormentes
Que por mais calejada
exclama o desespero presente.
Pois sou retrato discrente
com toda essa maldade sem precedentes.

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Continuo sem acento, infelizmente. Peco desculpas...ainda que sem cedilha!

sexta-feira, 20 de março de 2009

E isso eu nunca soube dizer...

Que dor é essa?
Maldita que corrói por dentro
infecciona e inflama depressa,
raiz execrada de todo tormento.
Prefiro o silêncio do ar condicionado
embora cheio de ruídos,
passa despercebido pela multidão.
Assim como eu, que vago calada
subproduto de tamanha contra-mão.
Mas sou ferida aberta e recortada
sofro os pesares da vida mundana
com a alma acelerada.
E, no acaso, desmembro a membrana
de todos os dias em que longe passas
talvez algo derradeiro e inevitável
ou uma quimera sem graça.
Só sei que esse vazio tangível,
sem ressalvas, me habita por inteiro.
queria eu ter alma assassina
só assim pra sentir meu braço amputado
e não morrer por dentro, sem morfina.
Não quero parecer mórbida
nem por demais dramática
Mas saibas que enquanto não vens
em mim, reina a ausência.


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Vão ser longos esses 6 meses, mas saiba que tens um coração aflito a te esperar. Que a Irlanda lhe traga bons frutos. Tua irmã te ama, Rafa.
Pra sempre, sua Baixinha.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Foi esse o dia em que eu te perdi...

Hoje eu acordei com medo de te perder. Tudo era meio sem graça e nem te ter ao meu lado consolava, quase um pesadelo em tempo real. E a tv tomava magestade pelo silêncio que ecoava no quarto vazio. Vazio de esperanças e sobrecarregado de medo. Foi quando me tornei tartaruga prisioneira e me escondi dentro de mim. Algo quase instintivo que me fez me doar menos, sentir menos, ser menos. Esse foi o dia que te perdi fechada no meu prórpio casulo. O fogo dessa paixão já havia abrandado a tempos e nesse momento o único questionamento da humanidade era saber quem apagaria a chama definitivamente. Mas eu te perdi pelos motivos errados, não foi falta de amor nem muito menos uma traição inesperada. Eu acordei com medo e meus sentidos esvaíam no compasso em que o dia se passava, fui me tornando fria e passível com medo de sofrer. E eu nunca soube amar de verdade, mas são os que menos amam que mais precisam ser amados. Foi quando eu te perdi de vez. Tentando me proteger perdi quem me protegia, sendo amada me perdi dentro da quimera sedenta de amor que me habita. E agora eu sou toda culpas e desculpas a mim mesma, eu sou toda olhos e ouvidos dos que não são correspondidos e a ferida continua a sagrar. Talvez eu não mereça ser feliz, a felicidade deve ser mesmo o luxo dos utópicos. Algo tão inerente aos olhos e de efemeridade tamanha que nem mesmo os mais felizes devem merecê-la.

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Viajo hoje e vou ficar cerca de 20 dias sem comunicacao com o mundo e em estado de descanso profundo. Bom, coloquei um gadget de musica ali do lado com algumas das minha preferidas, ja que sou apaioxada por essas ai desponiveis. Como odeio blog que te empurra musica adentro sem pedir permissao, esse so aciona caso lhe interesse. Enfim, quando tiver tempo, pretendo coocar mais algumas por la.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Dança contemporânea













Hoje quero desbravar tuas vergonhas
concentrada, como quem extirpa uma vida
adentrando desmitificada as entranhas
sem perder o tom amargo de intrometida
Descamando-te os desejos mais profundos
e de ouriços arranhar-te por inteiro
Eu quero estar no entre-meio
na linha de passe do surreal
ja que pra tanto me falta freio
Aprendi a ser por demais passional
o que faço se de erros me enfeito
E em mim adormece o lado racional?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Selos

Ganhei esse selo de um blog que eu gosto muito. Fiquei aliviada por ter jovens pensantes por ai e honrada por estar nessa categoria. La vao as regras:

1º~ Exiba a imagem do Manifesto e explique do que se trata
Proposta do Manifesto: "Mostrar que aquela história de que a juventude está perdida é uma generalização tola e sem sentido. Como a autora da proposta explicou: "Existem SIM muitos jovens que pensam e tem seus ideais, que debatem, e que querem mudar o mundo. Mas querer não é o suficiente. Com o blog, conheci jovens brilhantes que estão perdidos por esse grande Brasil. Como o nome do selo é "Jovens Que Pensam", estarei indicando aquelas pessoas que eu considero retratos pensantes.
2º~ Poste o link do blog que te indicou [www.anjuhz.blogspot.com]
3º~ Indique blogs de sua preferência para fazer parte dos 'Jovens que Pensam'
=>Blog do Hud [www.hud-roati.blogspot.com]
=>Sou continente perfeito [www.soucontinenteperfeito.blogspot.com]
=>Eleanor Rigby [www.eleanorrigby.blogspot.com]
=> Perscrutarei [www.perscrutarei.blogspot.com]

4º~ Avise seus indicados
5 º~ Publique as regras
6º~ Confira se os blogs indicados repassaram a imagem e as regras! Pronto! Você já faz parte deste Manifesto!

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Outro selo bem legal que eu recebi essa semana foi o "Olha que blog maneiro!". Bom..como eu nao tenho criatividade vou indicar para as mesmas pessoas e mais uma [www.anjuhz.blogspot.com]. Basta pegar a imagem abaixo, adiciona-la no blog e repassa-la para no minimo 3 pessoas. E, claro dar os creditos de quem te deu o selo. No meu caso foi [www.sou continenteperfeito.blogspot.com], super recomendado!

Obs: Esse computador nao tem acentos entao eu to escrevendo um pouco mais de acordo com a nova ortografia e um pouco menos de acordo comigo mesma.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Poesia

Por hoje eu vejo poesia
seja na flor despedaçada
ou nos teus olhos de adrenalina.

Por hoje eu respiro poesia
como quem esperimenta um perfume
como quem inala maresia.

Por hoje eu sinto poesia
seja no toque das tuas costas
seja de amar esse meu novo costume.

Por hoje eu tateio poesia
adentro seus cabelhos cacheados
por entre seus calores extremados.

Por hoje eu sofro poesia
como quem perde um filho
por encantos desmembrados.

Por hoje eu amo poesia
e nem sei se esses versos encaixam
ou se de sentidos se completam.

Por hoje eu escuto poesia
no ranger dos seus dentes de malícia
nessa musica deprimente que vicia.

Por hoje eu como poesia
e mastigando palavras que rimam,
engulo o meu sofrer.

Por hoje eu sou poesia
já que essa melancolia não me larga
e esse poema não acaba.

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Escrito em algum dia de 2004.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Preto e Branco

Aqui jaz meu pensamento em multiplas cores.
Devaneios corrompidos de verde em ferida latente,
anedota blasé nesses dias de afago.
Me diga onde despejar a desconhecida semente,
pois de lilás em lilás, o palhaço se faz amargo.
Derrama-me em manchadas latas de tinta,
ou contornos avermelhados de sangue.
Já que em ti a pulsação se faz, ainda.
Sem estrelas para ouvir ouço o teu céu mudo,
espelhos de um mar sem fim.
Mas é calmo sob as ondas,
no azul profundo do meu tormento.
Na ausência das idéias não nego:
sinto o vazio, ouço o silêncio e vejo o nada.
Faço poesias com a sombra esvaziada.
Pois sou poetiza e poetizo o nada em tudo.
De agudas pedras sem cor faço cama de veludo,
da escuridão faço fulgor de luz e brilho
enquanto o velho senhor procura abrigo.
E esse preto sem graça me possui
arruinando todo encanto multicolorido
mas nenhuma alma desapegada influi
Porque só me restam poemas de dor.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pra não dizer que não faço finais felizes..

Deitava na cama já meio entorpercido, sabia que não podia ingerir aquela quantidade de álcool sem reação do organismo. Se ao menos não tivesse misturado a vodka com energético conseguiria ter uma noite tranquila. E agora era o sono que não vinha. As paredes tinham aquele aspecto descascado e esverdeado de mofo, em alguns lugares até desenhadas, rabiscadas, sujas de diversos tipos de fluidos. Se concentrava apenas em dormir mas seus olhos teimavam em não fechar. Qualquer tom de vermelho perseguia a menina que habita seu olhar como um holofote dançando no céu. E que coreografia mais desagradável. Nem o incômodo abatia seu olhar determinado a permanecer vidrado. Ressecado, o olho não se movia. A palpebra pesava mas ele não tirava os olhos dela. Era pequena, frágil com olhar de abandonada e como era bonita dormindo. Não tinha aquela beleza clássica, mas era a pessoa mais humana que conhecera. Vai ver isso era sexy nela, tímida com seus cabelos castanhos até a cintura. Ali parecia que o mundo lá fora não importava, ela era dele como ele era dela. Bateram na porta três vezes. A sombra de alguém nas frestas atingiu o coração do Personagem como flechas sem pontas, e sentiu o sangue correr mais depressa para seu cérebro. Tentou levantar o braço que se apoiava na barriga dela, mas era pesado demais. A boca permanecia aberta, esperando o grito. A palavra, nesse segundo de adrenalina, sumira. Enterrara-se em alguma profundeza da alma do Personagem. No lugar, acariciava o ombro da menina como quem embala o sono. E ela era de toda sonhos, mágicos e com o nome dele. E essa era a assinatura, sempre depois de sonhos claros. Foi quando mesmo dormindo, ela resolveu aprisionar aquele sentimento pra sempre. E desde então eles continuam deitados, embevecidos de fantasia e crentes de que a vida não passara de um quarto mal cheiroso ao lado de quem se ama. Preferia sentir aquele coração pulsando em sua jugular.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Desamores

Eu me ofereço inteira
e você me nega os interiores
antes renascer rameira
a me abater pelas dores.
Eu me ofereço inteira
enquanto procura amores
ao longo da fileira
só lhe peço que decidas
em qual lado da trincheira
me trairá as escondidas.

Eu me ofereço inteira
Você se satisfaz com metade
Sempre rondando a beira
do sofrimento, desejos a parte.
Eu me ofereço inteira
de um lado a outro, opacidade
vidros quebrados nessa roseira
Pra disfarçar a mediocridade.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Sobre a guerreira

-Seu maior defeito e sua maior qualidade é tua intensidade - disse seu melhor amigo.
Como não conseguia escutar desaforos e ficar calada, respondeu com o cinismo dobrado. E quase ninguém sabia ser mais cínica que ela.

-Eu penso e faço, elas só pensam, não me recrimine, elas são iguais a mim, só que elas tem o que perder, eu não.
Ela nunca intendera o que estava escondido atrás daquelas palavras. De fato, Renata sabia ser intensa. Não era hipócrita, era só ela e só sabia ser assim. Uma menina com traços de idade que demonstravam que a vida não lhe havia suavizado os castigos. E as meninas da classe continuavam a zombar do seu modo desleixado de levar a vida, dos rompantes que tanto lhes invejavam.

-Babacas! -se defendia suavimente ainda que por dentro um conflito de sensações se formasse. Ela até queria ser aceita no grupo. Só não aceitava essa garota medíocre que ela se tornava quando tentava se encaixar nos padrões. Então resolvia errar por si mesma, assumir a culpa e colocar a cara a bater. Queria começar uma revolução em seu corpo e divulgar seus questionamentos sobre a sociedade à partir de si própria. Nunca intendera porque toda menina precisava brincar de boneca nem muito menos o porquê de todo esse puritanismo que lhe cercava. Era um tanto quanto política e contestadora, mas não se deixava intimidar pelas críticas e pré-julgamentos que sofria unicamente por possuir cabelos curtos e algumas tatuagens escondidas. Ela gostava mesmo das adversidades, do torto da vida, dos subníveis do impossível. Não sabia se adptar ao meio lunático que crescera, achava mesmo que a vida ia muito além de viagens internacionais e bolsas gucci. Jurava que podia abrir os olhos do mundo, mas o mundo não só a ignorava como revidava com força. Esse era o preço de ser sonhadora, de querer mudar as coisas. Renata, cuja vida doída não repelia ao contrário das princesas de vidro, das meninas tons pastéis, tinha personalidade que extrapolava seu comportamento ruidoso. Ela era um oceano turvo e profundo, mas que cativava pelo que era, assim, sincera.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Promessas

- O seu sorriso desafia as leis da física e nem só por isso eu gosto dele. Nem só de belezas é constituído o meu gosto, nem só de belos sorrisos sobrevive o meu amor. Sua alma transborda compaixão e tudo aquilo que te foge quando você fixa seu olhar de repovação em mim. Eu já devia ter desistido de tentar achar razões pro inexplicável e aceitar de vez que esse caso não tem solução. Eu gosto porque gosto. E cada pedaço do meu gostar é como um mendigo pedante, qualquer migalha de você me serve. Mas a natureza tem dessas coisas. Silencia e renasce após as esperanças morrerem, cala antes da avalanche. E há tanto esse silêncio me devora a sanidade, prefiro a desordem ou qualquer manifestação de dor a esse vazio que me mastiga como um monstro faminto. Só sei que por todas as horas que você me ignora, por todas as noites que silencioso você me foge, uma raiva incontrolável me toma. Que a tempestade de tormentos tome conta de mim a ponto de me arrepender, mas não consigo continuar a viver num lar onde o amor foi deposto, cassado e exposto à mediocridade de uma vida de rotinas. Quando os ventos amenizarem, espero com saudade, lembrar dos dias em que juntos somamos sabedoria e estreitamos caminhos. Adeus.

Esse foi o discurso que Luiza nunca tivera coragem de ler, e até hoje esta guardado na gaveta do criado mudo. Uma decisão de transformação que não passou de um papel amarelado em baixo das contas do mês. Vai ver é mais simples resistir na falta de romantismo num casamento monótono e seguir a vida só existindo, sem viver de verdade. Acreditava que valia a pena abrir mão de sonhos e realizações pessoais em prol de um casamento de fachadas, sempre se preocupando no que os outros iam pensar. Ela achava que tinha, sem perceber, transferido todo amor que sentia pelo marido para os filhos e netos. A partir daí mimava-os indiscutivelmente.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Caminho do abismo

É por você, toda essa inquietação que me sufoca. Antes esse caso inacabado, a caso algum. Antes um amor idealizado, a toda essa agonia que me toma. Ultimamente só tenho amado você, nem essa pobre existência que me cobre faz sentido. E de sentido vive o soldado. É quando todas aquelas canções de amor começam a fazer sentido. Vai ver esse caso é mesmo uma sinfonía, dessas que precisam ser tocadas até o final. Perfume que me inebria num envolto radioso de sensações, cheiro que paira pelo ar por esses dias que tua ausência se faz presente. O nosso amor é a fúria dos elementos naturais, explosão por estilhaços, é tormenta desatada. É por você, toda essa desordem que me sufoca. E quando a ferida vai parar de sangrar? É de mau entendidos que nossa realidade se reinventa, é com erros que o destino brinca com nossas almas. Assim você se deita sobre minhas memórias, modesto como de costume, me descortinando as dores. A garrafa de vinho ainda esquecida no canto da cozinha, aquela flor amassada dentro do livro, a toalha pendurada no varal, tudo isso que compõe um mosáico de você em mim. Eu já não sei mais viver sem você aqui. Me falta suas pernas entrelaçadas por baixo do edredom, me falta tua respiração na nuca, o calor do teu abraço. E desde já não sei mais dormir. Digo adeus a cansativa mesmice dos mortais. Sou livre, não sofro mais. E por mais que eu já conheça a estrada do 'eu te amo', vez ou outra ela me leva a caminho do abismo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Antes do amanhecer



Chegara atrasada ao ensaio como sempre, mas o ritmo lhe roubava os sentidos, ela era só olhos e ouvidos, dança e coração para a música, para a coreografia. Um mosaico de cores quentes enfeitava sua saia de tecidos muitos, rodada e viva. Seus pés pisavam com determinação cada ponto do solo. A sapatilha ecoava no piso de madeira, a gravidade oscilava, ora permitindo o vôo da dançarina, ora obrigando-a a descer, aterrissar do êxtase. Ela era feita de musica como os relógios eram feitos de hora, uma simetria irritantemente perfeita. Ela gostava mesmo era de ver o mundo de cabeça para baixo, os músculos tensos, as pernas, como hélices, girando no ar. E era aquela garotinha graciosa que hipnotizava um par de olhos no canto da platéia vazia. Pele, cabelos e traços se combinavam melodiosamente numa única pessoa, que balançava o corpo deixando-se guiar pela emoção. Ele assistiu toda a apresentação e aplaudiu quando chegou o final. Observou-a com cuidado, até se aproximar e tocar seu cotovelo, mantendo apenas uma distância mínima educada. Ela olhou, e tremeu. Acontecia, então, o encontro da borboleta com o dia, depois de cansada do casulo. O peito arfava, o coração palpitava em todo o corpo, como se todo este fosse só um músculo cardíaco. O menino relaxou, a dançarina relaxou e os rostos ficaram corados. O menino guiava a bailarina com fidelidade pelas cores e pelas ladeiras que riam seus risos mais sinceros. Caminhavam de mãos dadas desapegados da hora e trocavam histórias, até o pôr-do-sol. À medida que o dia se dissolvia, eles apressavam o passo em direção ao futuro. Corriam como crianças, irradiavam alegrias infantis. Amantes dóceis, tímidos. Pelas praias, faróis e mercados, os quatro pés pisavam com pressa e força a terra. As mãos não se desgrudavam, e os olhos não se detinham parados no objetivo, encontrando-se e esquecendo-se da corrida. A madrugada já ia alta quando resolveram descansar e soltar as mãos. A surpresa foi ao perceberem que não mais poderiam se separar. As mãos antes unidas haviam virado uma só, manchada e irregular, separando o pulso de um do pulso do outro. Eles se olharam com cuidado, dessa vez mais fundo, ali descansando, parados, um de frente para o outro. Na euforia do amor instantâneo, ambos haviam se esquecido de como o dia começara e de como levavam suas vidas. Agora, misturados demais para que pudessem se distinguir, os dois fitavam o céu, que demorava cada vez mais para mudar de cor e voltar a clarear.Não existia mais paixão nem juventude. A madrugada se estendera por uma eternidade forçada, enquanto, parados, a Princesa e o Guerreiro contemplavam os sonhos além do horizonte assustador. Envergonhada ela só queria achar um caminho seguro pra casa ou simplesmente acordar daquele sonho mágico que já deveria ter acabado. E, assim, os raios solares acabaram com qualquer vestígio de paixões, a única que lhe restava era a paixão pelos saltos e as piruetas mas essa estava gravada sob a pele pra sempre.