terça-feira, 28 de abril de 2009

Ar rarefeito


Eu não sei o que acontece dentro da sua cabeça. Que diz que me ama sem olhar nos olhos, me coloca as qualidades que eu não tenho e faz cara feia. Me defende enquanto me falta razão e reclama desse meu coração de pedra. Pedra preciosa, isso sim. Que ainda rudimentar se vê clara sob a luz, raridade em meio ao lixo. E tamanho é o brilho aos olhos dos poucos que adentram sua camada porosa. Nariz arrebitado de teimosa, orgulho que fura a alma. Atrás desses olhos de ressaca posso provar que um musculo cardíaco pulsa ainda despreparado pra toda essa entrega desenfreada e toda essa imundice da vida cotidiana a dois. Devo ter sido mordida pelo mosquito da realidade, e vejo todas as intenções destorcidas por trás dos gestos. Talvez mordida pela desconfiança da vida moderna, mas eu sinto que há algo no vento que parece uma tragedia a caminho. Por mais que eu tente me esconder, eu sei que a nuvem negra ja se acomodou sobre a minha cabeça prometendo dias de tempestade. E eu ja sinto os pingos desse novo tormento que me tira as noites, me cala devagar. E, no fundo você não passa de uma dormência no pé, não me disperta grandes sensações de amor nem ódio, mas incomoda de certo modo. Antes ser dormencia passageira a tomar lugar do meu coração de vez, ou ruir sendo meu rim estragado. Por isso mantenho essa distância mínima, mas suficiente pra não tornar rarefeito o ar a minha volta e continuo respirando devagar.

domingo, 19 de abril de 2009

Novela da minha vida

Novela da minha vida
Que nem enredo tem
sem sal mas preferida
talvez por ninguem

Novela da minha vida
Ha uma ausencia morando em minha casa
que cobre de cinzas os espelhos
amarga o sumo das frutas
descontrolando o eixo da asa
Que nem serve pra voar mais.

Novela da minha vida
de ritimos e defeitos
talvez mais um anjo passageiro
ou uma quimera sem freios.

Novela da minha vida
Vejo essa abundancia de sorrisos
que me preenche, sem comida
ja que comer se tornou habito dos mortais
e sofro a indignacao do organismo fraco.

Novela da minha vida
Manchada de preto inseguranca
cujo elenco so faz fingir
mesmo depois que as cortinas fecham

E eu de protagonista,
presa no papel de mocinha
so me falta o principe, que disse adeus
so me falta paciencia com esse destino.
Queria eu ser vila e criar meu mundo
assumir as maldades e viver sem culpa.
Enquanto isso vivo a margem
marginalizada nos pensamentos do autor.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O berço dourado

Num berço espelhado
descançava o filho de alguém,
aquele que de tudo tem,
aquele que de tudo reclama,
aquele que baixinho clama,
por um berço dourado.

Nem diamantes e pérolas furta cor
colocadas em contrapor
emitiam a radioatividade do metal,
aguarde o temporal.

Admira a beleza de seu berço reluzente
mas não é benevolente
e continua exigente,
pois nenhum berço é tão cativante,
nem tão exuberante
quanto o de ouro.

Um choro pidão, assim descontraído
Ele, certamente considera sua vida ganha
no fundo, não passa de um filho da fama
Sua face exala a feição de seus genitores.


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Possivelmente escrito em 2001, observe as rimas bobas de uma criança de 11 anos.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sobre ela

Sempre tivera uma imaginacao fora do comum. E por isso resolveu escrever um livro. Um livro so dela, desses que poderia despejar todos os seus defeitos em cima de uma personagem qualquer. Depois era so dar um nome engracado e o romance estava encaminhado. Nao que sua vida fosse por demais interessante pra virar livro, mas Fernanda acreditava que so os famosos, as putas, os drogados ou os apaixonados em excesso conseguiriam "material de vida" suficiente pra 200 paginas de pura verdade inventada. Entao resolveu ser cinica, escrevendo descaradamente sobre ela mesma a ponto de qualquer pessoa que ja a viu na padaria de manha reconheceria a farsa. E na introducao ainda colocaria uma linha imoral sobre como aquele livro era de ficcao e que nenhum dado tinha conexao com a realidade. Resolveu tambem introduzir umas mentiras dando-a um ar de descolada e super moderna. Por varias vezes desejou escrever na primeira pessoa, mas seria por demais descarado, nao gostava desse nivel de exposicao. Joana, isso. Joana seria seu nome ficticio. Uma mulher sofrida, como se sentia por dentro. Uma mulher sexual e muito sexuavel, como sempre quisera ser. Uma mulher cheia de questionamentos internos e uma autocritica dominante. Assim era Joana, com muito de fernanda, ainda assim com muita autencidade. Joana tinha nos olhos a raiva descontrolada de mulher traida, um olhar sempre frio e distante de quem ja viveu bastante e sofreu mais ainda. Na verdade Fernanda queria mesmo expressar suas frustracoes de um amor que, pra ela, tinha acabado antes da hora. Despejava tudo que sentia num bloco de notas, assim, sem poesia. E nada pior que uma mulher frustrada, ela busca vinganca dos modos mais traicoeiros. So Deus sabe como as mulheres descontroladas e as bichas sabem ser vulgares ao se vingar. E assim fez. O livro era cheio de ironias e sua ideia inical de retratar sua realidade se esvaia ao ponto em que ela sentia o gosto de mentir sem ser descoberta. Foram horas do dia desperdicadas e so uma pagina ficou pronta. Que diabos de livro e esse de uma pagina so?!Realmente, nao tenho talento...digo, nao tinha talento.