quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Entre ele e ela

5:45, ria o despertador com escárnio. Olhava o relógio fixamente na esperança de ter tocado na hora errada.É, não aconteceu. Como fermento de bolo ela se levantava a caminho da cozinha. Ainda meio tonta tentava lembrar as fórmulas de calculo enquanto mastigava o pão frio.Não acreditava que tivera a semana pra estudar e a poucas horas da prova nao lembrava de absolutamente nada. É Flávia, você está se tornando mais irresponsável ao passar dos anos, resmungava ela mentalmente. Voltava para o quarto rastejando pela casa em seu calvário matinal. O celular começou a tocar sem cessar. Pensou em nem atender, afinal quem ligaria a essa hora da manhã. Mas sua curiosidade atendeu. Fez questão de fingir voz de sono. Não acreditava que era o marcelo. Só de ouvir esse nome seu corpo tremia. Logo ele ligando a essa hora?Considerando que faziam bem uns três meses que eles não se falavam, era bem possível que algo bem grave tivesse ocorrido.Respirou fundo e retomou a conversa.O tom de voz estava estranho, palavras se misturavam e ele com uma inexplicável vontade súbita e urgente de conversar. Só pode estar bêbado, pensou. E assim combinaram, em 5 minutos na esquina da princesa isabel com nossa senhora de copacabana. Seus pensamentos estavam em alta velocidade num mix de entusiasmo e curiosidade. Colocou a primeira camiseta que puxou do armário junto com a primeira calça que encontrou. Calçou o chinelo e ficou pronta em aproximados dois minutos, o que pra ela era quase um récorde mundial. Desceu as escadas correndo tentando não pensar. Sempre que pensava demais tendia não agir. De longe avistou aquele que torcia para esquecer enquanto olhares tímidos se cruzavam envergonhados. Quando passavam muito tempo sem se ver o ambiente ficava com um clima estranho, tenso. Beijou-o na bochecha mesmo mirando a boca, escutava mesmo sem haver som algum. Num vômito de verdades, ele começava a dizer o que ficara entalado. Agora estava certa de que tinha algo errado.Ele nunca fora de demonstrar sentimentos, nunca falava o que queria sem rodeios, simplesmente deixava a mensagem subentendida. Numa espécie de lavanderia cobrava dela um posicionamento, uma opnião, ou qualquer coisa que transformasse aquele monólogo em conversa. A verdade é que perto dele, seu olhar se perdia, lhe fugiam as palavras e nem mesmo se tivesse ensaiado conseguiria falar o que o coração mandava. Ele despejava as verdades sem piedade, sem se importar com as consequências. Seus olhos eram sempre uma dica do que acontecia por dentro, ja que dificilmente ele falava o que queria, mas naquele dia seu olhar estava distante. De fato a vodka tinha embaralhado as palavras, mas cada vírgula que saia pela boca precisava do incentivo do álcool para sair. Eram mais verdades do que ele poderia suportar sóbrio, era muita intensidade. Ficaram quase uma hora discutindo o porquê do afastamento. Lamentavam o rumo das coisas, mesmo lamentando baixinho. Falou do quanto se importava com ela, de que ele queria mais do que só um caso esquecido. Foi quando ele a puxou pelo braço, algo rápido e sem chances de escape. Beijou-a como quem se despede, lento e profundo. Tudo aquilo que ela sentia cheirava a naftalina e ela queria enterrar de vez, mesmo querendo longe. Sempre fora um fracasso em evita-lo, ainda mais assim, tão apaixonadamente bêbado.E assim despediu-se e pegou um táxi pra faculdade já ciente que repitiria em cálculo. A porta do carro fechou separando tudo que reinava onipotente entre ele e ela, sem passagem de volta. Passaram se as semanas, os meses e nenhum telefonema. Se perguntava porque ele a procurara, certa de que aquilo não passara de um passeio no passado, um sonho relembrado. Não foi por falta de tentar, quer dizer, até foi. Mas ela simplesmente não tinha capacidade, nem maturidade suficiente para agir de outra forma, seu orgulho era maior. O problema era que ele tinha tanta certeza quanto ela que aquilo não ia levar a lugar algum, aquilo não foi feito pra levar a lugar algum. Eram apenas duas pessoas machucadas tentando suprir uma carência que deveriam superar sozinhos. Quando lembro deles só penso no casal que podia ser e não foi, o casal cujo orgulho era maior que o amor que sentiam, o casal que sentia, mesmo sentindo separado.

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Baseado em fatos reais - sempre quis dizer isso hahahah

3 comentários:

Unknown disse...

Amor!! eu acho q conheço essa história!E ela não tem um final, nunca vai ter..

hauahu desde quando a gente se livra dos carmas hauha

mas literamente! adorei! mt bom =p

Unknown disse...

muito showwwww, parabens

Unknown disse...

hahah só pra dar um suspense..
a resposta foi "ueh.. vamos"