quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Sobre a guerreira

-Seu maior defeito e sua maior qualidade é tua intensidade - disse seu melhor amigo.
Como não conseguia escutar desaforos e ficar calada, respondeu com o cinismo dobrado. E quase ninguém sabia ser mais cínica que ela.

-Eu penso e faço, elas só pensam, não me recrimine, elas são iguais a mim, só que elas tem o que perder, eu não.
Ela nunca intendera o que estava escondido atrás daquelas palavras. De fato, Renata sabia ser intensa. Não era hipócrita, era só ela e só sabia ser assim. Uma menina com traços de idade que demonstravam que a vida não lhe havia suavizado os castigos. E as meninas da classe continuavam a zombar do seu modo desleixado de levar a vida, dos rompantes que tanto lhes invejavam.

-Babacas! -se defendia suavimente ainda que por dentro um conflito de sensações se formasse. Ela até queria ser aceita no grupo. Só não aceitava essa garota medíocre que ela se tornava quando tentava se encaixar nos padrões. Então resolvia errar por si mesma, assumir a culpa e colocar a cara a bater. Queria começar uma revolução em seu corpo e divulgar seus questionamentos sobre a sociedade à partir de si própria. Nunca intendera porque toda menina precisava brincar de boneca nem muito menos o porquê de todo esse puritanismo que lhe cercava. Era um tanto quanto política e contestadora, mas não se deixava intimidar pelas críticas e pré-julgamentos que sofria unicamente por possuir cabelos curtos e algumas tatuagens escondidas. Ela gostava mesmo das adversidades, do torto da vida, dos subníveis do impossível. Não sabia se adptar ao meio lunático que crescera, achava mesmo que a vida ia muito além de viagens internacionais e bolsas gucci. Jurava que podia abrir os olhos do mundo, mas o mundo não só a ignorava como revidava com força. Esse era o preço de ser sonhadora, de querer mudar as coisas. Renata, cuja vida doída não repelia ao contrário das princesas de vidro, das meninas tons pastéis, tinha personalidade que extrapolava seu comportamento ruidoso. Ela era um oceano turvo e profundo, mas que cativava pelo que era, assim, sincera.

2 comentários:

Naty disse...

Eu me vejo muito nesta garota, mas ainda estou longe de ser como ela.
Belo texto!
Parabéns!
=D

Anônimo disse...

Renata? rs

Ótimo, como tudo até aqui.

Todo mundo tem um leão dentro de si, algumas pessoas apenas não o domesticam. Essas, sabem mais, sofrem mais, portanto.