segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

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Tenho um segredo guardado no meu sorriso, mas todas as vezes que eu abro os lábios ele me escapa entre os dentes. Começa quase silencioso fugindo como um sussurro no canto da sala, mas vai tomando velocidade em desespero, como se temesse desaparecer ao amanhecer e debandando como uma fama repentina. E na janela há essa paisagem torta que não cabe no meu horizonte, e por ela, ele corre. Pelas casas da cidade caos ele adentra, nem tão puro assim, mas acaba contagiando tudo, o caderno, a caneta, o café e a velha caneca, o ambiente todo. Segredo imoral. Uma oportunidade para uma tragédia, uma deliciosa tragédia shakesperiana, regada à cinco ou seis doses de conhaque, a cinco ou seis reflexões sobre o que fazer com aquele caso passageiro, ou como montar um manual que ensinasse a abandonar aquele amor platônico em cinco, no máximo seis semanas. E algumas pessoas, egocêntricas como de costume, achavam que poderiam descortinar anos de segredo. Irônico. A transparência do enigma só existe ao meu ver. A efemeridade está no movimento dos lábios que abrigam um dilema, lento como mel. Se de mim roubarem esse mistério, com meu olhar felino caçarei pelo mundo dentro de ti até devolver brilho à flor que morre despedaçada dentro de mim. Pois de nada vale o segredo se compartilhado, de nada valem gestos se impuros, de nada vale o amor se platônico. Mas o amor mais bonito é o que menos certo dá. O amor mais único é justamente aquele que mata parte de si para sobreviver. Por agora, mato o orgulho que habita meu ser desvendando o segredo que me corrói e te dizendo sem rodeios: Te amo!

2 comentários:

Unknown disse...

"Mas o amor mais bonito é o que menos certo dá."

=*

Anônimo disse...

Vc é excepcional!
Completamente!