sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Menina mimada

Seu coração tentava caminhar sem dono, ainda se recuperando do último que o deixara em frangalhos. Só não sabia que pra andar era preciso haver chão sob seus pés. Areia movediça, gelo de lago, ou qualquer sustentação. Seus pés já não tocavam o mundo, as paredes já não eram mais paredes, seus sentidos já não mais sentiam. Amar um outro alguém seria divertido, mas não encontrava ar suficiente pra sequer arriscar. Prefiria o canto do quarto, atrás da porta do banheiro, os cômodos vulgares que não assustam nem a impediam de sofrer. Confundiam seu coração com uma janela e essa, quando aberta, era inevitável entrar e fazer um grande estrago por dentro. No fundo não passava de uma criança abandonada querendo gritar. E talvez ela fosse mesmo uma eterna criança, dessas que vagam como nômades entre os lares de quem lhe oferece carinho. Uma romântica irrecuperável que adiciona drama à simplicidade do dia-a-dia. Uma dessas menininhas que gritam por gritar, sofrem por sofrer. Ela gostava mesmo era de andar na corda bamba entre o circo e o abismo, de renovar desesperanças nas esquinas da vida. Sempre afastando qualquer intenção parecendo sofrer por algo maior. O que ninguém sabe é que seu ultimo caso amoroso não passava de um filho da sua imaginação, mais um amigo imaginário.

Um comentário:

Unknown disse...

"..., mais um amigo imaginário."

=*